DO LIVRO "LONGE É A LUA, MEMÓRIAS DE LUANDA - ANGOLA".
Angola de território "cosmopolita português" foi transformado num qualquer país africano, passando pelo assassinato de mais de 2 milhões de africanos, europeus e euro-africanos, e a destruição das vidas construídas em Angola de centenas de milhares de portugueses europeus. A guerra civil foi particularmente feroz no interior, empurrando para a capital vários milhões de pessoas, a maioria estrangeiros dos países vizinhos que se aproveitavam dessa guerra, a população de Angola era até 1974 de 5.673 milhões de habitantes, passou para 15 milhões. Em 1975, as infra-estruturas de águas e saneamento estavam calculadas para 600.000 habitantes. A cidade abriga hoje 4 milhões e 100.000 habitantes (números fornecidos pela ONU e pela ACNUR, Handbook on Voluntary Repatration). Angola desde 1975 vive entre o afro-comunismo e o petro-dólar. Luanda é a cidade mais cara do mundo, a classificação que melhor a define actualmente é, LIXO, LUXO e COLONIALISMO.
A cidade de Luanda não passa de uma gigantesca lixeira a céu aberto. Luanda é um caos onde se misturam sem pudor o lixo e o luxo, as doenças e os milionários, o petróleo e a fome, a miséria e a morte, o abandono das crianças que vivem nos esgotos e o tráfico de drogas e de diamantes.
Por todo o lado existem milhares de mutilados e milhares de diamantes, hotéis de cinco estrelas e milhares de barracas, a miséria e as festas milionárias, as minas anti-pessoal por desactivar por toda a parte, e minerais por explorar e, angolanos que morrem à fome ao lado de imundícies infectas, e stands de automóveis de luxo, anúncios de telemóveis e computadores, sistemas de ar condicionado para casas dos milionários, e bares sumptuosos…
Luanda foi transformada numa das cidades mais perigosas do mundo, onde a criminalidade atinge índices alarmantes. A dois passos de distância do fausto, da riqueza e da ostentação, a podridão e a miséria, as doenças degenerativas, os esgotos a céu aberto onde as crianças brincam, vivem, e tomam banho, a insalubridade nauseabunda e repugnante...
Segundo as estatísticas do governo dos EUA a produção de petróleo em 2005 foi de 1,6 milhões de barris diários ou, seja, a 19.ª do ranking mundial. O salário mínimo é de 50 dólares por mês, 70% dos 15 milhões de angolanos vivem abaixo da linha de pobreza com 1,7 dólares por dia. Certos dados macroeconómicos informam que a inflação passou em 2002 para 350%.
A guerra acabou com a agricultura (não se cultivam mais de 5% das terras aráveis, segundo a FAO) e paralisou a actividade industrial, destruiu a rede de estradas e caminhos-de-ferro e arrasou áreas enormes. Muitos angolanos acabam de conhecer o dinheiro saído do tráfico dos diamantes e da cocaína. A corrupção e a violência domina Angola.
*P.137
*P.137
A presença de executivos estrangeiros é tão notória que chega a ser insultuosa, os oito hotéis de Luanda (cuja diária ultrapassa 160 euros) estão sempre cheios, e durante a noite nos bares de luxo veêm-se desfilar impudicamente com atitudes e gestos marcadamente colonialistas.
Quando se pergunta a um natural de Angola "como é possível a existência de semelhante barbárie num país tão rico?" Temos sempre a mesma resposta:
-"A população sente-se profundamente revoltada e indignada com o governo e com o regime mas tem medo de falar, o MPLA cortou a cabeça a muitos milhares de angolanos em 1977, e por isso vive-se entre o terror e a repressão."
Por outro lado existe profusão de etnias dos países vizinhos, e de outras raças que se fixaram em Angola colonizada por russos, cubanos, chineses, etc...
Actualmente pelos angolanos mais simples do povo não é raro ouvir-se quando encontram um português - "Que a guerra e a pobreza foi a "descolonização" que não acaba".
Falar de paz em Angola é tergiversar a verdade dos factos, em Cabinda a guerrilha de separatismo do enclave é um facto. Como o surgimento das guerrilhas tribais e a revolta dos sobreviventes e órfãos dos massacres praticados pelo MPLA, russos e cubanos. Ao longo de três décadas de guerra morreram mais de 2 milhões de seres humanos; 4.1 milhões foram deslocados internos; 436.000 levados para os países vizinhos: Zâmbia, Congo-Brazzaville, República Democrática do Congo.
O número de mutilados civis resultado de minas anti-pessoal é de 80.000.
Não constam neste relatório as milhares de vitímas que foram selvaticamente espancadas e torturadas, vindo a morrer ao longo dos anos, e outras pelos traumas tornaram-se vegetativas.
Rafael Marques, jornalista e activista dos direitos humanos, natural de Malange, trabalhou para a Open Society Institute em Angola, fez um relatório sobre os direitos humanos em conjunto com Rui Falcão de Campos, onde denuncia a escravatura a que foi submetida a população das Lundas (Malange), onde os lundas são tratados pior que escravos.
Refira-se que é em Malange que se encontra a Diamang, a companhia de exploração de diamantes. *P.138
Do Livro, "LONGE É A LUA" - Memórias de Luanda-Angola, de Rogéria Gillemans,
Op.cit., P. 137 a 139, ISBN 978-989-20-1341-1.
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